segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Houve em tempos coragem para dizer que a Terra era quadrada e que às vezes o Sol a perseguia, houve capacidade para inventar teorias erradas e transformá-las em leis, houve mestria para inventar e adorar um só Deus. Conseguimos prever futuros e alterar o conceito de tempo, conseguimos honrar Ícaro e fazer do voar uma realidade. Foi-nos sempre fácil aceitar mentiras como verdades e seguir em frente sem nada questionar, excepcão feita a uma mentira em particular. E isto, porque no percurso que foi o nosso enquanto espécie, duvido que algo nos tenha dado, algum dia, mais alento e conforto do que a simples certeza do amanhã depois do hoje, e é por isso que, apesar das inúmeras profecias, nunca ninguém acreditou verdadeiramente que o amanhã pudesse não surgir.
É para nós absolutamente essencial que o Sol nasça todos dias e a Lua apareça a dada altura para lhe roubar o lugar. Não queremos saber quem persegue quem e pouco nos importa se a Terra é redonda ou até mesmo quadrada, desde que o chão que pisamos nunca se acabe. Tornámo-nos seres bipolares, amedrontados, cuja ambição depende unicamente do tempo que avança, e que, de forma inconsciente confundem a mudança para um dia novo com a rotina da existência de um dia novo todos os dias.
E nunca nos justificamos. Raramente abrandamos o ritmo, talvez com medo que o relógio acompanhe os nossos passos e se quede em má hora. Transformamos em importante o que ainda está por vir. Seja bom ou mau, melhor ou pior, alegre ou triste, azul ou encarnado...o importante é que seja e apareça sempre para dar um ar da sua graça. A vontade. A ambição aliada à necessidade constante de mais e melhor. O desejo de caminhar para a frente, muitas vezes sem amparo. Traçamos pra nós uma linha recta, montamos um esquema de jogo seguro e esperamos secretamente nunca ter de olhar pra trás. Deixou de interessar. Apostamos tudo, todas as nossas esperanças, todas as nossas necessidades , as nossas mais altas expectativas...colocamos todas as nossas fichas no virar de um página que muitas vezes sabemos estar em branco. Suportaríamos tudo, excepto um calendário parado.
Decerto fariamos os possíveis para que chegasse sempre o momento de deitar a cabeça na almofada independentemente de terem ou não mudado as preces que o antecedem, ficaríamos igualmente felizes com um dia de sol ou um dia de chuva e mais felizes ainda quando os dois se juntam para nos oferecer um arco-íris. Saberíamos procurar e encontrar sempre motivos para rir e motivos para ver as horas a passar. Continuaríamos a viver preocupados com muita coisa e alienados das poucas coisas que realmente importam. Faríamos sempre do medo na sua essência mais primitiva e da rotina em todos os seus contextos os nossos maiores aliados. E continuarímos a raramente arriscar.Serímos indubitavelmente os mesmos no dia em que o nosso mundo começasse a andar ao contrário... Mas quem seríamos nós no dia em que o nosso mundo parasse?

sábado, 25 de abril de 2009

O importante é que nunca se esqueça a principal mensagem deixada por todos aqueles que lutaram pla liberdade...



terça-feira, 17 de março de 2009

"I'd like to be the man my dog thinks I am." -- Mike McGuire, songwriter





Ao contrário do que se possa pensar à primeira vista, Marley não é um cão super herói ou um cão que joga basket. Marley é apenas mais um cão.
Li o livro e tive de ver o filme em seguida. John Grogan, o autor, relata sem pretensiosismos a sua história, que é apenas mais uma história. Talvez o ser apenas mais uma igual a tantas outras seja a chave para tão grande sucesso. À medida que avançamos, deixamos de saber se estamos a ler sobre John e o seu cão ou sobre Marley e o seu dono ou até mesmo se estamos a ler a nossa própria história.
Quem tem ou já teve cães de certo que se revê em quase todos os capítulos e pára durante a leitura vezes sem conta pra relembrar os objectos destruídos à dentada, as fugas, as graças e acima de tudo os momentos de partilha e o amor incondicional que todos os Marleys nos dedicaram. Sabemos que, por mais rebeldes que eles sejam, só têm mesmo um defeito...o não viverem tanto tempo quanto nós...

terça-feira, 10 de março de 2009

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"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.Apenas nos iludimos,julgando ser donos das coisas,dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.Nao perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre" ( "Não te deixarei morrer David Crockett" - Miguel Sousa Tavares)


Eu mostrei-lhe as palavras e ele discordou do autor. Demos por iniciada uma saudável discussão em que ele defendia a sua teoria, na qual assumia a partida dos outros. A vida era encarada como uma linha recta onde as companhias iam mudando ao sabor da sina, da vontade e da necessidade. As pessoas iam deixando saudades que nós, através de um processo de comodismo/conformismo/habituação saberíamos, a pouco e pouco, transformar em esquecimento e vazio.
Eu discordei na altura e mantenho intacta a minha opinião porque, talvez por ser saudosista, me recuso a encarar a questão como sendo meramente física. Todos os que por mim passaram deixaram a sua marca, o seu conhecimento, a sua experiência, o nosso riso e o nosso choro, os nossos momentos. E é isso que fica e que se leva.
Pessoas que partiram sem querer, pessoas que se afastaram por vontade própria, pessoas das quais eu me quis afastar....todas elas ajudaram a construir o meu "Eu". De todas elas relembro tudo e sem dúvida faltando uma apenas ou estando alguma a mais já tudo seria diferente. Trata-se de um processo de simbiose, um crescimento mútuo, um acordo de cavalheiros baseado no dar e receber.
Aprendemos a viver com e sem os outros, nunca em total autonomia e nunca em total companhia. Aprendemos a filtrar o que queremos para nós. Aprendemos a aprender. Aprendemos sobretudo, a nunca deixar ninguém para trás.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009





..."ser poeta é escolher as palavras que o povo merece"...


Vinte e cinco anos volvidos sobre a sua morte, e nesta altura em que muito se fala no filme "Amália", vi-me na quase obrigação de fazer aqui esta referência.
José Carlos Ary dos Santos foi poeta de eleição, dramaturgo, activista político inconformado e irreverente mas foram sem dúvida os seus trabalhos na música que o tornaram conhecido do público. Escreveu cerca de seiscentas letras para os mais variados artistas entre os quais se contam Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Fernando Tordo, José Afonso, Paulo de Carvalho e Simone de Oliveira, entre muitos outros, mantendo para sempre vivas as suas palavras em hinos como "Desfolhada", "Tourada", "Os Putos", "Um homem na cidade", "Lisboa Menina e Moça", "O Cacilheiro" e "Estrela da Tarde".
Como qualquer génio, mantinha a fama de louco...



Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer.


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Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
é tão vulgar que nos cansa
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
a morte é branda e letal
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!



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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Para a Adriana:



"In preparing for battle I have always found that plans are useless, but planning is indispensable." Dwight D. Eisenhower (1890 - 1969)




No meio das drogas infinitas, havia a meio da tarde um prazer confesso ao parar por um breve minuto. Era o tempo suficiente para ler as frases do dia seleccioandas pelo meu tão estimado igoogle.
Disse: "Olha Adriana...esta é para nós!". E ela lá tentou prestar atenção ao que eu dizia, julgando ser mais uma das Tietas ou das Deolindas que eu inisitia em ouvir para suavizar a dureza da nossa tarefa.
Eu continuei: "In preparing for battle I have always found that plans are useless, but planning is indispensable." A Adriana riu no meio do vermelho: "Isso é verdade! Essa frase és mesmo tu Telma! ". Sei que ambas concordámos silenciosamente que aquele era um dos lemas dos últimos anos...
Confesso que sou quase sempre eu que tenho esta necessidade "Adriana preciso de um plano, estou perdida! Aponta! Ora quinhentas páginas, quinze dias, cinquenta páginas por dia mais cinco dias para rever a matéria...!". E ela lá tenta então ajudar-me, saca do post it e da caneta e escreve, faz tabelas, enfim...o necessário...escusado será dizer que ao fim do terceiro dia já nada bate com o previsto e faz-se então um novo cálculo, um novo post it.
Ambas sabemos de antemão que nenhum plano é para cumprir, que a linha recta previamente traçada e o zigue-zague correspondente à realidade têm em comum apenas um final (espera-se) feliz.
Mas nas nossas pequenas batalhas o mais importante é, sem dúvida o acto de planear.É a forma que encontramos para ganhar novas forças e novo ânimo, de parar para respirar e de, mais tarde, irmos para a cama mais descansadas.
Traçar o caminho tornou-se indispensável,tal qual um acto natural, para saber que (não) temos tempo, para saber que é possível, para saber que o vermelho não muda, para saber que já falta pouco, para saber que temos alguém que, faça chuva ou faça sol, vai sempre connosco para a guerra.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008



Não há Lisboa sem fado nem fado sem Lisboa. Não há fado sem Carlos do Carmo e foi Lisboa que se calou para ouvir aquele que melhor a sabe cantar.
Foi a merecida homenagem a este grande senhor da música portuguesa que celebra agora 45 anos de carreira. A ele se juntaram nomes como Camané, Mariza, Bernardo Sassetti, o filho Gil do Carmo, o neto Sebastião e um público há muito fã e que sabe de cor todas as suas canções.
A mim, fica-me a imensa pena de não poder ter estado presente...e o ânimo de saber que já falta pouco para os 50!