terça-feira, 2 de dezembro de 2008



Não há Lisboa sem fado nem fado sem Lisboa. Não há fado sem Carlos do Carmo e foi Lisboa que se calou para ouvir aquele que melhor a sabe cantar.
Foi a merecida homenagem a este grande senhor da música portuguesa que celebra agora 45 anos de carreira. A ele se juntaram nomes como Camané, Mariza, Bernardo Sassetti, o filho Gil do Carmo, o neto Sebastião e um público há muito fã e que sabe de cor todas as suas canções.
A mim, fica-me a imensa pena de não poder ter estado presente...e o ânimo de saber que já falta pouco para os 50!

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para todas as avós que fazem oitenta anos, para as avós do ossinho, as avós nonas, as avós dos rolos na cabeça e que mesmo assim ficam lindas, os avôs que apitam nos detectores de metais e também para as netas que lhes cantam os parabéns....







"Que pena que tenho de ser velha!"...frase dita pla minha avó tantas vezes quantas aquelas em que o corpo já não corresponde à vontade como outrora ou em que queria simplesmente desfrutar com outra juventude dos prazeres que os tempos modernos nos vão proporcionando.
Sei que ela tem realmente pena, sei que queria andar mais depressa, sei que queria ver melhor para poder fazer as palavras cruzadas e as rendas, sei que não queria adormecer a ver a novela, sei que queria conseguir marcar os catorze dígitos no telemóvel para ligar para a República Checa sempre que lhe apetece.
"Vó....tu de nova já não morres...eu ainda corro esse risco!"...sei que a resposta que muitas vezes lhe dou não é a mais inspirada mas é sem dúvida uma verdade. Talvez seja uma tentativa estúpida de a fazer encontrar algum conforto num medo exclusivo dos novos!Apesar disso sei qe não poderá haver conforto maior que o passado, o conhecimento,a experiência, a certeza do que já se viveu.
Tu já sabes que chegaste aos OITENTA, eu sei e só, que se lá chegar, quero ser como tu: ainda andar mesmo que devagar, ainda aprender mesmo que com mais dificuldade...ainda ser muito útil mesmo por vezes não sendo capaz.
Não é pedir muito pois não? É pedir tudo!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008



Sabíamos mais ou menos o que nos esperava e estávamos convictas que íamos preparadas :cada uma levava cinco damas de companhia e uma sandes mista no bolso para o que desse e viesse...
Ao dar os primeiros passos em direcção ao portão que dava acesso a
Auschwitz I ( "Work will make you free"), vimos as convicções a desaparecer e as nossas caras a mudar.
Sabíamos a história, os seus intervenientes, o seu início e o seu fim, os dados e as datas, alguns números. Não conhecíamos de todo as cores, a ventania, as caras, as flores e as velas acesas,os caminhos. Tivemos consciência da frieza, do pormenor, do não limite para a maldade. Tudo isso, aliado à grandeza, é propriedade apenas de quem lá vai. Estávamos NA história.
Lembro-me de, a dada altura, tudo aquilo nos parecer impossível.Comentámos que nem os animais selvagens matam por prazer.Todos os que ali entram são obrigados a sentir, por certo, vergonha da sua raça.
Passadas quatro horas de visita éramos as mesmas pessoas embora muito mais conscientes. Curiosamente no regresso falávamos dos Holocaustos do presente, dos erros que se continuam a repetir, dos milhões que continuam a morrer e do facto de nós, raça, continuarmos a ignorar, vivendo alienados do passado e principalmente do presente. Não tenho dúvidas que era por isso que estávamos tristes.


terça-feira, 4 de novembro de 2008



Para a Rita...que o Jorge esteja sempre com a casta de 85, no bem e no mal,nos dias e de sol e principalmente nas noites de (muita) chuva....

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

As dúvidas crescem e as questões surgem à medida que se avança.Se calhar é por isso que ás vezes o instinto me manda estar parada.Mas nunca ninguém disse que o instinto e a vontade eram amigos certo?
Nunca invejei a forma de viver passiva e indolor de alguns,aqueles que,num estoicismo enervante, sabem rejeitar enquanto aguardam ou tudo acolher sem nunca aguardar. Mas lá está, de todos os heterónimos de Pessoa, o Ricardo Reis sempre foi o que menos gostei! É no andar para a frente e é no surgimento das incertezas que procuro o prazer.
Inventei em tempos uma estúpida teoria: coitados dos que não gostam de futebol!Nunca sentirão o sabor amargo da derrota mas, por outro lado, também nunca terão a alegria de uma vitória. Não pretendo de todo,acalmem-se, misturar poesia e futebol nas mesmas dez linhas de uma forma gratuita. Percebi que, mesmo sem tencionar, esta teoria ia muito para além do futebol.
Recuso entregar-me ao fatalismo, cruzar os braços e ter pena. Prefiro as soluções às razões e o correr atéà exaustão ao estar parada. É a correr que se ganham jogos...Recuso-me a não sentir e a não sofrer e principalmente, recuso-me a esperar!Não sei estar parada e muito menos ter calma, assumo.Mas não é com calma que se festejam as vitórias pois não?

domingo, 26 de outubro de 2008









Quando regresso, faço-o com a fúria de quem nunca lá esteve.Gosto de chegar sozinha e ao entrar na aldeia desligar o rádio que me acompanhou durante a viagem.Abro o vidro e mesmo sem dar conta já estou a fazer o primeiro aceno.Começo inevitavelmente a sentir-me em casa.
Gosto de lembrar.Gosto de conseguir retirar da nostalgia quase tanto riso como do presente e talvez por isso só aqui esteja completa.É nessa nostalgia que encontro o segredo para partir sem nunca abandonar o Alentejo.
Levo sempre comigo a terra seca e o calor que gentilmente turva o pensamento, mas que sabe bem de tão puro. Levo o frio cortante do inverno e a chuva que só ali tem aquele cheiro.Levo o fumo da braseira e do forno de lenha.Levo o cantar ao som da rua daqueles que muitas vezes se deixam vencer plo vinho.
Levo as testas enrugadas e as peles queimadas de quem muito tem para contar.Levo a paciência para esperar o que nunca vai acontecer e levo a verdade de quem nunca aprendeu a ser de outra maneira. Levo a grandeza da planície e a imagem da azinheira,que tal como o poeta dizia, nunca saberá a idade.
Levo tudo o que posso quando parto, volto a trazer tudo quando regresso porque quem ama a terra não sabe roubar sem mais tarde devolver.Fecho o vidro, ligo o rádio e a única certeza é sempre a vontade de regressar.
Grande senhor, grande letra e grande música...


Espero-te ao amanhecer.É o mais belo de todos os amanheceres e é por isso que contigo o quero patilhar.Juntos fixaremos o horizonte onde o castanho da terra abençoada se casa com o azul que é dos teus olhos e que o céu teve a elegante ousadia de copiar.
Sei todos os nossos passos de cor e por isso sei que vais colocar com a mais
firme delicadeza o teu braço em meu redor e me vais apertar sem nada dizer, porque o tempo foi tão amigo quanto conselheiro e ensinou-nos a silenciar o precioso e a deixar adivinhar o que de tão forte só o pensamento pode dizer.
Grito sem qualquer pudor que te quero ao amanhecer,porque te quero sem remorsos nem dores do tamanho do peito que só as noites mais escuras sabem trazer, quero-te inteiro e ingénuo, quero-te puro de ideias e de desejos e despido de preconceitos e ambições,traz contigo apenas a inocência e a esperança características de um começo onde não há promessas em vão que sabem transformar doces luares em dias cinzentos. Vem sem medo, de peito aberto e olhar firme que sabem ser fieis aos que nada têm a perder porque inda não planearam nem construiram o quevem a seguir.
Quero inventar contigo uma manhã sem geada e uma tarde em que o sol nunca tenha a coragem de se por,o dia sem ontem nem amanhã e aí me quedar ao sentir o sabor dos beijos que me dás com a calma própria de quem começou a ler um livro do qual já sabe o final, beijos esses dos quais eu nunca saberei guardar uma saudade que só sabe existir no que está para vir.
Só nessa altura nos permitirei sonhar já que finalmente saberemos onde mora a mágoa.Ficaremos só com o hoje e nele faremos as coisas mais belas porque já não temos medo.Espero-te ao amanhecer.
Fechei a porta do carro e saí.Respirei fundo como se tratasse do meu último suspiro e senti de imediato um cheiro ingenuamente sedutor a Verão e a luar.Olhei para a estrada, a recta perdia-se de vista e ao longe confundia-se com o escuro.
Lembrei-me então que estava sozinha e sorri,como que agradecida plo simples facto de poder partilhar comigo aquele momento que de tão melancólico merecia ser só meu.Sabia que não era egoísmo, era simplesmente um luxo ao qual se podem dar aqueles a quem,por ironia,nenhuma alternativa foi oferecida.
Fiz um esforço por trazer à memória os momentos partilhados, os bons e os maus,aqueles em que eu me dei e aqueles em me olhaste com a cumplicidade de quem partilhou. O conforto, agora agridoce,apercebi-me então que vinha com o saber que estes nunca poderiam ser de mais ninguém.Estava,agora sim,a ser egoista.
Foi na saudade que me parei.Fui ficando enquanto quis e porque me estava a saber bem desfrutar deste
presente chamado existência,envenenado por um fim chamado apenas fim.Sei quem um dia inda irei sentir saudade da saudade que sinto hoje, e será esse e só esse o dia em que te vou perder e perdoar.
Agora digo livremente que não te quero a ti mas quero o beijo e a mão no cabelo, quero o respirar quente a fazer arrepios e a verdade, quero o prazer e o rir.Quero tudo,enquanto for capaz de guardar.
Penso com a simplicidade de quem sabe não haver outro caminho a seguir e recordo com o entusiasmo de quem
já percorreu tudo o que conseguiu.Nunca hesitámos.Talvez fosse esse o nosso ponto forte ou quem sabe a nossa maior fraqueza. Nunca ficámos a dever nem nunca cobrámos o que não devíamos.Os segredos,esses, prometo nunca os contar a ninguem.
A lua estava agora de uma cor muito mais bonita.Ao entrar no carro,apercebo-me que de já não estou a chorar.Vejo a pouco e pouco a recta desparecer à minha frente.Ligo o rádio e ouço o "Mr. Tambourine Man".Curiosamente, não tive dúvidas que aquela música era para mim.Enquanto cantava tomei consciência que sabia exactamente o caminho a seguir.Haveria melhor maneira de recomeçar?