quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para todas as avós que fazem oitenta anos, para as avós do ossinho, as avós nonas, as avós dos rolos na cabeça e que mesmo assim ficam lindas, os avôs que apitam nos detectores de metais e também para as netas que lhes cantam os parabéns....







"Que pena que tenho de ser velha!"...frase dita pla minha avó tantas vezes quantas aquelas em que o corpo já não corresponde à vontade como outrora ou em que queria simplesmente desfrutar com outra juventude dos prazeres que os tempos modernos nos vão proporcionando.
Sei que ela tem realmente pena, sei que queria andar mais depressa, sei que queria ver melhor para poder fazer as palavras cruzadas e as rendas, sei que não queria adormecer a ver a novela, sei que queria conseguir marcar os catorze dígitos no telemóvel para ligar para a República Checa sempre que lhe apetece.
"Vó....tu de nova já não morres...eu ainda corro esse risco!"...sei que a resposta que muitas vezes lhe dou não é a mais inspirada mas é sem dúvida uma verdade. Talvez seja uma tentativa estúpida de a fazer encontrar algum conforto num medo exclusivo dos novos!Apesar disso sei qe não poderá haver conforto maior que o passado, o conhecimento,a experiência, a certeza do que já se viveu.
Tu já sabes que chegaste aos OITENTA, eu sei e só, que se lá chegar, quero ser como tu: ainda andar mesmo que devagar, ainda aprender mesmo que com mais dificuldade...ainda ser muito útil mesmo por vezes não sendo capaz.
Não é pedir muito pois não? É pedir tudo!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008



Sabíamos mais ou menos o que nos esperava e estávamos convictas que íamos preparadas :cada uma levava cinco damas de companhia e uma sandes mista no bolso para o que desse e viesse...
Ao dar os primeiros passos em direcção ao portão que dava acesso a
Auschwitz I ( "Work will make you free"), vimos as convicções a desaparecer e as nossas caras a mudar.
Sabíamos a história, os seus intervenientes, o seu início e o seu fim, os dados e as datas, alguns números. Não conhecíamos de todo as cores, a ventania, as caras, as flores e as velas acesas,os caminhos. Tivemos consciência da frieza, do pormenor, do não limite para a maldade. Tudo isso, aliado à grandeza, é propriedade apenas de quem lá vai. Estávamos NA história.
Lembro-me de, a dada altura, tudo aquilo nos parecer impossível.Comentámos que nem os animais selvagens matam por prazer.Todos os que ali entram são obrigados a sentir, por certo, vergonha da sua raça.
Passadas quatro horas de visita éramos as mesmas pessoas embora muito mais conscientes. Curiosamente no regresso falávamos dos Holocaustos do presente, dos erros que se continuam a repetir, dos milhões que continuam a morrer e do facto de nós, raça, continuarmos a ignorar, vivendo alienados do passado e principalmente do presente. Não tenho dúvidas que era por isso que estávamos tristes.


terça-feira, 4 de novembro de 2008



Para a Rita...que o Jorge esteja sempre com a casta de 85, no bem e no mal,nos dias e de sol e principalmente nas noites de (muita) chuva....

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

As dúvidas crescem e as questões surgem à medida que se avança.Se calhar é por isso que ás vezes o instinto me manda estar parada.Mas nunca ninguém disse que o instinto e a vontade eram amigos certo?
Nunca invejei a forma de viver passiva e indolor de alguns,aqueles que,num estoicismo enervante, sabem rejeitar enquanto aguardam ou tudo acolher sem nunca aguardar. Mas lá está, de todos os heterónimos de Pessoa, o Ricardo Reis sempre foi o que menos gostei! É no andar para a frente e é no surgimento das incertezas que procuro o prazer.
Inventei em tempos uma estúpida teoria: coitados dos que não gostam de futebol!Nunca sentirão o sabor amargo da derrota mas, por outro lado, também nunca terão a alegria de uma vitória. Não pretendo de todo,acalmem-se, misturar poesia e futebol nas mesmas dez linhas de uma forma gratuita. Percebi que, mesmo sem tencionar, esta teoria ia muito para além do futebol.
Recuso entregar-me ao fatalismo, cruzar os braços e ter pena. Prefiro as soluções às razões e o correr atéà exaustão ao estar parada. É a correr que se ganham jogos...Recuso-me a não sentir e a não sofrer e principalmente, recuso-me a esperar!Não sei estar parada e muito menos ter calma, assumo.Mas não é com calma que se festejam as vitórias pois não?